Empreendedorismo,  Motivação

Mulher empreendedora; Mulher executiva; Mulher que faz história

Falar da ascensão do universo feminino no mundo executivo sem reconhecer os méritos de cada mulher que busca o seu ideal com persistência e dedicação chega a ser um atrevimento nos dias atuais. Na nossa sede, em Goiânia, temos algumas simbologias que nos remetem à força feminina e a sua superação no decorrer dos anos, como é o caso de uma linda estatueta de 15cm em porcelana da Miss Florence Albee que representa a primeira revendedora da marca Avon, a qual mantem unida a força de mulheres que somam mais de 300 mil ao redor do mundo. A estatueta é o prêmio destinado às 8.000 melhores revendedoras ao redor do mundo. Obviamente não ganhei e não sou revendedor, e isso, com o tempo, vira um objeto de colecionador ou um poderoso instrumento motivacional de reconhecimento pelo importante papel da mulher no mundo dos negócios.

Buscando o passado histórico brasileiro, em 1827, foi publicada e chancelada por Dom Pedro a lei que criará escolas de letras em todas as cidades, vilas e lugares populosos do Império, com atenção ao artigo 11, o qual diz:

“Haverá escolas de meninas nas cidades e vilas mais populosas, em que os Presidentes em Conselho, julgarem necessário este estabelecimento”.

Com o passar dos anos, as mulheres sempre tiveram um papel importante na família e empresas, como no caso da Dona Izabel, a qual, em 1919, percorria fazendas a pé comprando gordura de leite como matéria prima para fabricação de manteiga artesanal. Além de cuidar de três filhos, em 1925 sua empresa recebeu medalha de ouro de melhor manteiga. Seu legado continuou e, hoje, é um dos laticínios centenários em operação no Brasil.

Nos dias atuais, ainda nos deparamos com muitas desigualdades de inúmeras naturezas quando olhamos estatísticas prontas, seja de sexo, gênero, idade, cor, etnia dentre outras. Porém, no dia a dia de minhas consultorias, converso com muitas pessoas e tenho contato com muitas histórias de vida que dariam um bom livro de empreendedores… e é justamente nesse universo que me questiono se empreendedor tem essa opção? Posso ter cabelos cacheados ou cabelos lisos? Se é necessário ter olhos castanhos ou azuis?

“A resposta que me confronta é que empresa não deve ter cor, sexo, muito menos gênero, mas, sim, empresa deve ter excelente liderança…”

Vejamos dois exemplos de negócios prósperos e vamos comparar suas lideranças: o primeiro, Paula Leman, acompanhado dos companheiros Marcel Telles Beto Sucupira detalhado em “Sonho Grande”, o qual descreve que o sucesso de um empreendedor não se dá em 1 ou 2 anos, mas em 40 anos de dedicação e, no caso deles, com aquisições de marcas icônicas como Burger King, Budweiser, além do Banco Garantia, Lojas Americanas e Cervejaria Brahma, criando a AB Inbev, GP Investimentos e 3G Capital como tantos outros investimentos no decorrer dos anos, sem contar de conseguir um feito de ter como sócio Warren Buffet.

Paulo Lemann sempre foi perfeccionista e obstinado por trabalho e procurou executivos que somassem em seus negócios, tinha por regra a sigla PSD (Poor; Smart; Desire to get rich), o qual traduzindo significa pobre, inteligente e com desejo de ficar rico… ou seja, profissionais com vontade de fazer o negócio acontecer, jovens ambiciosos e que viam o trabalho em primeiro lugar. O trio tinha um perfil “workaholic” desde a criação do Banco Garantia, e isso era passado para os colaboradores do banco por meio de um sistema chamado Meritocracia e “Partnership”, o qual consistia em bônus muito alto e possibilidade de sócio para os melhores, o que gerava competições internas muito fortes. O objetivo sempre era o máximo de motivação e comprometimento com o negócio.

O Desenvolvimento e seleção de pessoal era outro ponto crucial para Lemann, pois dispensava títulos desde que os resultados falassem por si; inspirava-se em Jack Welch na metodologia 20-70-10, ou seja, premiava muito bem os vinte por cento melhores de sua empresa, os setenta por cento continuavam da mesma forma e substituía os dez por cento que não estavam performando conforme deveriam.

Além dessa característica, análises de fluxo de caixa e replicar modelos que funcionam em outras empresas sem receio de qualquer natureza é uma fórmula interessante de sucesso.

Do ponto de vista de valores: simplicidade, acessibilidade e informalidade completavam um conjunto importante de ações que garantiam que informações circulassem rapidamente dentro da empresa e as decisões fossem tomadas de maneira assertiva. Por fim, uma diversidade de sócios complementares e uma visão agressiva de mercado em aquisições e reinvestimentos constantes completam um perfil arrojado de empreendedores que foram capazes de criar um conglomerado poderoso do ponto de vista empresarial.

Agora, vejamos o segundo exemplo de sucesso empreendedor por meio das mãos de uma das mulheres mais influentes da atualidade segundo a Forbes, a Sra. Luiza Trajano, hoje presidente da Magazine Luiza contando com mais de 800 lojas e cerca de 23 mil funcionários. De origem simples do interior de São Paulo (Franca) trabalhou desde os 12 anos na loja da família e sob seu comando em 1992, quando nascia a Internet e foi uma das pioneiras no Brasil a implantar os totens ou computadores virtuais em 1999, em que o cliente escolhia virtualmente nas lojas da Magazine Luiza o produto com auxilio de vendedor e recebia o produto em casa por meio de catálogo virtual. Essa ação tinha um fundo de otimização de estoque, redução de custo e muita inovação para época além de alto risco como também educação para funcionários e clientes. Foi um sucesso!!!

Ser inteligente e gastar menor que o concorrente é outra característica de empresa de sucesso. Foi o caso da Luiza com o “case” do caminhão do Faustão, sem caixa para concorrer com as propagandas das Casas Bahia, optou em oferecer seus produtos no caminhão do Faustão, teve tanto sucesso que as pessoas achavam que o Faustão era sócio da Magazine Luiza ou até esposo da Luiza Trajano.

Já em 2002, Luiza Trajano entra no mercado financeiro em parceria com o Itaú Unibanco criando o Luizacred e, em 2005, criou o Luizaseg em parceria com a Cardif.

Outra prática implementada por Luiza foi uma espécie de antecipação de Black Friday em janeiro, chamada de Liquidação Fantástica, visando aumentar vendas em período de baixa produtividade de vendas o que acabou gerando tanto sucesso que ultrapassou mais de R$ 100 milhões de faturamento em menos de 5 horas de ação. A ideia foi copiada amplamente por toda concorrência. Visitas constantes a lojas, respostas via e-mails e conversas diretamente com clientes somam ao perfil dessa presidente destacada não ignorando qualquer sinal de reclamação de suas lojas ou de seu atendimento.

A cultura organizacional da Magazine Luiza sempre foi um modelo a seguido, presente durante muito anos nas melhores empresas para se trabalhar (Great Place to Work), desenvolvendo muitas iniciativas para retenção de talentos, treinamentos, cursos, línguas, planos de saúde, entre outros benefícios, além de levantar uma bandeira de proteção à mulher em relação à violência doméstica com o disque-denúncia. Seus feitos foram tão admirados que chegaram a ser “cases” de sucesso na universidade de Harvard.

Todo aspecto cultural de crescimento vem também com política de distribuição de resultado e descentralização de comando, tornando a empresa mais ágil na tomada de decisão. Isso tornou a empresa ágil e capaz de abrir incríveis 48 lojas no mesmo dia, como ocorreu em 2008.

Em 2011, a empresa abriu capital e captou R$ 925 Milhões com preço de R$ 16,00 por ação, e, entre altos e baixo, viu suas ações despencarem abaixo de R$ 1,00. Enfrentando uma séria crise financeira como enfrenta todo empreendedor, recuperou-se e posteriormente comprou o Baú da Felicidade, a Netshoes e a Estante Virtual.

Como principais marcas, Luiza Trajano busca um legado com base nos seguintes pilares: valorização de pessoas; inovação sempre; não reclamar das dificuldades; não ter medo de errar; fazendo perguntas sempre; aceitando críticas; e possui uma frase tradicional a qual descrevo:

“Primeiro faça o necessário, depois faça o possível e, de repente, você vai perceber que pode fazer o impossível”.

Luiza Trajano

E o que esses dois empreendedores bem-sucedidos têm como diferencial?

Daniel Coyle, em seu livro “Equipes Brilhantes”, aborda o tema de gerenciamento de equipes e suas habilidades essenciais para criar organizações bem-sucedidas, sendo elas:

  1. Construir Segurança: essa é a principal fonte de energia de uma equipe. Ela se sente segura com o líder e com a equipe; o sentimento de pertencer a uma equipe e criar uma sintonia capaz de realizar de levar o projeto à frente, por mais desafiador que seja, garantindo que tenham voz, feedbacks, gratidão e se sintam acolhidos como também valorizem um momento especial. Sintam-se especiais e que façam parte da equipe e da construção da empresa.
  2. Compartilhar Vulnerabilidade: manter um ambiente de diálogo aberto em que as pessoas possam falar o que pensam e expor suas fraquezas fortalece os laços de confiança da equipe, e, com isso, gera um ambiente sólido de sucesso e com isso nasce uma dinâmica de ajuda e cooperação em busca de objetivos comuns.
  3. Estabelecer Propósito: é compreender os objetivos e os valores da organização e para onde precisamos ir, é entender por que estamos fazendo todo esse esforço e nos dedicamos tanto. Isso nos leva ao propósito, pois cria-se um elo entre presente e engajamento, com futuro compartilhado entre organização e equipe capaz de alcançar resultados extraordinários em que todos ganham e passem a compartilhar a mesma história criando, assim, um ambiente ideal de motivação.

E o que essas duas grandes empresas de sucesso têm em Comum?

Para entender o contexto dessas duas empresas brasileiras no decorrer de suas histórias, vamos mergulhar no universo de Jim Collins e seu livro “Empresas feitas para vencer”, onde descreve que toda empresa feita para vencer tem 3 pilares muito bem definidos: pessoas disciplinadas, pensamentos disciplinados e ações disciplinadas.

  • Pessoas Disciplinadas: para uma empresa vencedora você deve ter e procurar o que Collins chama de líder 5.0 – aquelas pessoas que pensam e são acima da média, ou seja, literalmente vestem a camisa da empresa. Esses profissionais se fundem às organizações e nem sempre são tão carismáticos, contudo são focados em resultados. Aqui há uma grande preocupação em quem contratar, pois acredita-se que se você contratou a pessoa correta, será possível treinar suas habilidades, assim o seu desenvolvimento será fruto do seu trabalho e dos desafios que a empresa apresenta.
  • Pensamentos Disciplinados: as empresas vencedoras são centradas nos fatos, ou seja, enxergam a verdade nua e crua e não têm medo do desafio do futuro. Sabem plenamente o que tem por vir e aonde querem chegar. Muitas vezes, são criticadas pela sua visão futurista, mas como são muito boas no que fazem, trilham por meio de um planejamento estruturado um caminho sólido, porém, muitas vezes, tênue, entre vitória e fracasso, visando perseguir os ideais que almejam para seus projetos de longo prazo.
  • Ações disciplinadas: por fim, as empresas são reflexos de seus líderes, logo pensamentos disciplinados levam às culturas disciplinadas, muito focadas em proatividades e desenvolvimento de objetivos, metas e realizações de programas voltados à melhoria de performance organizacional e cumprimento dos objetivos. Utiliza-se sempre de tecnologias aceleradoras ou, até mesmo, instrumentos que levem a ganhar tempo de implementação através da tecnologia, pois, aqui, a meta é fazer 10 em 5 e, se possível, antecipar-se aos concorrentes, pois o futuro é hoje, e só o será possível se as ações forem assertivas e alinhadas disciplinarmente aos objetivos estratégicos da empresa.

Levando em considerando essas abordagens técnicas, uma executiva de sucesso pode ser forjada em aço e fogo, como também eram no passado os executivos de sucesso, uma vez que fórmulas vencedoras estão à disposição e sua aplicação no universo empresarial da mesma forma.

Hoje em dia se, fala-se muito em ESG (Envirolment, Social and Governance), logo não poderia deixar de citar uma das mulheres executivas nesse segmento que se destacaram no mercado atualmente – a Sra. Regina Esteves, diretora-presidente da Organização Social Comunitas, que possui uma frase que diz:

“Todo mundo pode fazer algo para impactar as pessoas.”

Por meio de um trabalho social em plena pandemia COVID, conseguiu arrecadar cerca de R$ 50 milhões de reais para comprar respiradores, oxímetros para cerca de 260 leitos de UTIS em vários estados brasileiros. Ainda ajudou pessoas em extrema pobreza de diferentes regiões do Brasil. Como fruto de suas ações, o então Governador de SP João Dória a convidou para assumir uma pasta chamada Comitê Empresarial Solidário, potencializando a sua capacidade de liderança no segmento social, chegando à incrível marca de R$ 750 milhões arrecadados para o mesmo fim. E no futuro declarou à imprensa que seu propósito é se dedicar à pauta estratégica de políticas públicas, principalmente a educação.

E, por fim, gostaria de citar nesse artigo a Sra. Teresa Vendramini, presidente da Sociedade Rural Brasileira, a qual, pelas minhas pesquisas, foi a executiva que assumiu uma importante entidade Ruralista Brasileira centenária em dos principais mercados do Brasil, e até onde sei, o Brasil ocupa uma posição de destaque no cenário internacional. Com perfil “hand´on”, ela visita campo, lida com produtos e levanta temas de preservação ambiental, assim como mantém uma linha de igualdade chegando a dormir em assentamentos para conhecer de perto os problemas de regularização fundiária brasileira. Sabe, ainda, dialogar com iniciativa privada e pública assim como com o produtor grande e pequeno, com alunos de zootécnica e com a agricultura em geral, trazendo temas modernos sem medo para mesa: pecuária orgânica e diálogos de agricultura familiar, impostos sobre insumos agropecuários e custos de produção do setor.

Logo, o que pode impedir o sucesso de muitas mulheres na carreira executiva?

Obviamente, nós ainda vivemos em um mundo desigual e com muitos desafios como conquistas de direitos e igualdes em diversas frentes. Na carreira executiva não é diferente, porquanto o preconceito ainda é uma realidade a ser vencido nas empresas em alguma proporção, porém tenho a impressão de que, a cada dia, uma vitória nova acontece também em alguma proporção. Nas minhas mentorias, tenho várias executivas e empresárias, com preocupações como: “Será que sou estratégica? Será que serei uma CEO destacada? Tenho mais de 40 anos e minha carreira executiva está estagnada? Minha filha não que ser minha sucessora na empresa?” Essas são perguntas unissex, tanto faz serem feitas para homens ou para mulheres, pois remetem às inseguranças do mundo executivo e acredito que a maioria das pessoas se fazem essas perguntas em algum momento da vida, ou seja, se as coisas estão indo bem ou é a hora de reprogramar?

Minha avaliação é que existe um pequeno botão de “autossabotagem” que ligamos às vezes, na medida em que procuramos ouvidos para nossas desculpas, para nossas angústias, para nossos fracassos… porque ser empresário ou C-level é saber lidar com fracasso em alguma proporção, pois não é incomum ver um empresário abdicar da família pela dedicação aos negócios, alguns em função do próprio sustento da família, outros em função do sustento do negócio da família e outros por maior conexão com o negócio do que com a família. Na minha leitura, essa também é uma abordagem unissex, seja o CEO ou a CEO, teremos os problemas executivos a enfrentar.

Para isso, são importantes alguns pontos fundamentais:

  1. Conhecer-se bem: saber seu limite, a hora de descansar e a hora de produzir.
  2. Empatia: Como Diretor ou gerente, alguma proporção você precisará das pessoas, logo tê-las por perto é opção mais inteligente que se possa ter.
  3. Equidade: Trate seu dinheiro separadamente do dinheiro de sua empresa.
  4. Delegue: Separe claramente o que é essencial e que precisa de sua dedicação daquilo que pode ser realizado por sua equipe. Acredite, você não está sozinho.
  5. Tenha líderes 5.0: Faça como os vencedores, busque quem desenvolva as habilidades sem medo de perder essas pessoas para o mercado.
  6. Compartilhe conhecimento: A melhor forma de aprender é compartilhar o que sabe. Ficamos surpresos em ver como as pessoas são interessantes.
  7. Bom dia, Boa tarde e Boa noite para o Fluxo de Caixa: Nunca deixe de olhar seu números e/ou sua carreira, pois o seu negócio depende disso.
  8. Experimente não fazer nada: Mesmo que por pouco tempo, tenha um momento somente seu.
  9. Busque conhecimento incansavelmente: O mundo evolui muito rapidamente, logo estar atualizado é fundamental.
  10. Equilíbrio: Seja feliz fazendo o que gosta. Não há nada melhor do que acordar e fazer o trabalho que ama, voltar para casa e encontrar as pessoas que ama.

Max Schaefer é Diretor Executivo da Smart Boss e Mentor Executivo de profissionais de alta direção de empresas.

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