Empreendedorismo

Pensando de modo disruptivo no ambiente local

O ambiente global está cheio de oportunidades, e costumo dizer que oportunidade demais é tão perigoso como oportunidade de menos. Isso acontece todos os dias em nossas atividades diárias, e a grande pergunta é: Como pensar disruptivamente se estou atrás de uma mesa de escritório; ou trabalhando pesado no campo; ou gerindo um negócio de família; ou com muitos boletos para pagar? E meu principal pensamento é: Como pagar a folha de funcionários no próximo mês?

Em primeiro lugar, é necessário compreender o que é um pensamento disruptivo que ouvimos com frequência nos últimos anos, e tentamos entender como ele afeta nossas vidas. Ele deriva da inovação disruptiva apresentada pelo professor Clayton Christensen, da Universidade de Harvard na década de 1990. Consiste na aplicação da inovação em um produto ou serviço que existe na sociedade em qualquer parte da pirâmide de mercado, fazendo-o subir implacavelmente na escala de valor percebido, deslocando e alterando completamente o mercado que ele está inserido.

Aprofundando no tema, podemos definir que agir disruptivamente é criar novos mercados, novas categorias de consumidores e novos nichos de negócio, que encontram-se desatualizados ou inertes em comodismos, estando esses dominados economicamente por pensamentos tradicionais. Muitas vezes, não há uma grande mudança tecnológica, mas, sim, a percepção de valor ao explorar antigas soluções e refazê-las de maneira mais simples e funcional com a intenção de tornar a vida das pessoas mais práticas.

Para Pavan Sukhdev, um economista ambiental de respeito global e autor do livro Corporação 2020, as empresas tradicionais prosperam por meio da equação de criação de demanda e inovação de produtos, tendo, como base de viabilidade, o baixo custo de produção, seja por meio de mão-de-obra ou com baixa responsabilidade de seus acionistas, não se preocupando com o reflexo de suas atividades, seja ambiental, trabalhista, social e/ou local. Para ele, as empresas do futuro precisam de um novo DNA que inclua objetivos sociais, cuidado com o próximo, ações voltadas à igualdade social, harmonia comunitária assim como reduzir os riscos ambientais de suas operações além da conexão com o meio ambiente, pois, afinal de contas, somos parte de um ecossistema integrado, e nossas ações devem buscar um equilíbrio econômico social/ambiental, e não somente resultados financeiros acima de tudo.

Nesse contexto, Pavan traz à luz que as empresas e seus dirigentes devem começar o quanto antes esse movimento transformacional, pois a transparência está revolucionado os negócios ao redor do globo e “obrigando” as empresas a tomarem decisões baseadas em valores em vez do lucro a curto prazo.

Thomas L. Friedman, em seu livro “O mundo é plano”, considera que a globalização tem efeito de “achatamento” do mundo, em que decisões e medição de seus impactos são tomadas e sentidas em todas organizações, rompendo a barreira territorial por meio de plataformas de comunicação, venda, colaboração e inovação, e ainda propõe uma tripla convergência interdependentes entre si, porém fundamentais para o êxito dos negócios nesse novo contexto:

1 – Reconhecimento que fatores políticos e econômicos atuam como fatores complementares, ou seja, acordos bilaterais e pactos globais ganham uma importância de ganhar novos mercados ou fechar novos mercados, o que, com a velocidade tecnológica, pode tornar-se uma linha tênue entre fracasso e sucesso de seus projetos;

2 – O aumento de produtividade quando juntada às novas tecnologias e às novas formas de fazer negócio – repensam o óbvio e propõe uma forma mais fácil e ágil de poder desenhar um novo modelo de atuação e gerar alto valor agregado, podendo, inclusive, criar novos mercados com velocidades disruptivas.

3 – Colocar-se no terreno do jogo (Economia global), em que todos dela se beneficiem em alguma proporção, seja pelo serviço prestado, pelo imposto pago, pelo desenvolvimento pessoal ou pelo retorno gerado aos acionistas.

Essa tripla convergência afeta a maneira que nos preparamos para o novo mercado de trabalho e para os novos negócios, assim como todo o ambiente estratégico e geopolítico que a empresa está inserida. Logo, repensar mercados tradicionais está no DNA de todo empreendedor e buscar soluções que visem facilitar a vida cotidiana ou achar meios de simplificar problemas complexos são características de visões disruptivas implementadoras.

Jim Collins e Morten T. Hansen apresentaram os resultados de sua pesquisa no livro “Vencedoras por Opção” procurando as respostas para três perguntas que visam esclarecer como administrar e sobreviver em novos ambientes de negócio, a saber:

  1. Seus resultados foram sustentáveis e espetaculares por um período de 15 anos ou mais, em relação à média do seu mercado;
  2. Seus resultados foram realizados em ambientes turbulento, com eventos incontroláveis, muito rápidos, incertos e potencialmente danosos;
  3. Seu caminho para seu sucesso foi a partir de uma posição de vulnerabilidade; no início de sua jornada para se tornar um dos (10X).

Ao aprofundar-se nos estudos de Collins e Hansen, os brasileiros Maurício Pereira e Maria Helena Chaves, em seu artigo na Revista Ibero-Americana de Estratégia, descobrem que as empresas “10X” também possuem líderes do tipo “10X”, e seus comportamento remetem a:

  • Disciplina fanática: busca incessante pelo resultado e pelo que poderia dar errado;
  • Criatividade empírica: testes antes de executar a estratégia definitivamente; e
  • Paranoia produtiva: estar atento todos os dias a ameaças e oportunidades que podem afetar a organização.

Segundo os autores, esses resultados levam as lideranças à ambição de nível 5, também chamada ambição voltada para a causa ou propósito. Sua liderança não é voltada para desejos pessoais, mas uma combinação vencedora de humildade e determinação, realizando adequações quando necessário para garantir um futuro vencedor para sua empresa.

Abaixo o comparativo proposto por Pereira e Chaves em relação a Collins e Hansen:

Um ambiente voltado à inovação e criatividade é muito mais que audácia e visão futurista de seu idealizadores. Isso não significa dizer que o fator sorte pode interferir em qualquer momento ou contar com ajuda divina, pois, como sabemos, para Deus nada é impossível. Costumo dizer que, antes de ganhar, é sempre importante sermos boas opções, pois quando a oportunidade se apresentar, quem estiver melhor preparado tende a ter respostas mais rápidas e assertivas, e, por consequência, resultados maiores e, quem sabe, disruptivos.

O aprendizado constante do seu negócio ou do seu projeto é fundamental para seu sucesso, ou para adquirir o DNA necessário para torná-lo viável, e nesse cenário Pavan Sukhdev sugere 4 elementos para ajudá-lo a tornar-se líder de uma empresa do futuro:

  1. Metas em concordância com os objetivos da sociedade em que a empresa está inserida; isso, para crescer em resultados positivos, temos que estar alinhados com: melhoria de qualidade de vida da população, igualdade social e não impor ações que destruam os recursos ecológicos da região além de analisar constantemente os riscos ambientais.
  2. Visão voltada à formação de capital intelectual e ao desenvolvimento humano como fonte de diferenciação, não somente produção ou serviço visando a ganhos econômico-financeiros.
  3. Ter um propósito organizacional maior que o capital financeiro por meio de uma cultura de compartilhamento de governança, missão, visão, objetivos e metas. Entendendo que a empresa tem um papel na comunidade e suas ações visam à prosperidade da região e de todos que a integram.
  4. Formar o capital humano, desenvolvendo competências, ampliando conhecimentos e habilidades por meio da cooperação e dos institutos voltados ao compromisso da corporação e a sociedade em que está participando.

Hoje existem inúmeros estudos que trazem a necessidade de se preparar com contribuições reais das empresas e seus executivos na prática de desenvolvimento sustentável; isso em relação à análise de oportunidades e como o sistema de mercado tende a se alterar com as agendas propostas pelos agentes influenciadores como ONU, OMS dentre outros. Independentemente do tamanho de sua empresa, reconhecer que temos uma contribuição maior na participação de uma economia voltada à dissociação de crescimento econômico e à degradação ambiental é fundamental em um ambiente disruptivo, porquanto o seu sucesso passa por formar um ambiente equitativo de confiança e resultados com base em propósito organizacional.

Certa vez, eu estava em uma palestra em SP, e o palestrante fez uma pergunta que me intriga até hoje: Quais marcas vocês acham que serão líderes globais nos próximos 10 anos? Confesso que respondi como a maioria e com base em argumentos executivos, mas eu estava errado. A resposta passa por uma profundidade gigante de análise de ambiente, pois essas empresas podem ainda não existir, pois tendem a ser negócios transformacionais que construirão um ambiente de mudanças disruptivas ao ponto de rever completamente padrões de consumo, mercado e rentabilidade. E quanto mais tradicional e engessada for a empresa na condução de seus negócios, maior a probabilidade de ser atropelada por um novo negócio em velocidade cósmica. A exemplos disso, a revolução que o UBER fez com o segmento de táxi, ou aquilo que o i-food vem realizando na prática de consumo alimentar; sem falar da Tesla com o segmento automobilístico e a energia solar com o tradicional modelo de energia administrada pelo setor público; e não podemos nos esquecer do Whatsapp e do segmento de telefonia.

Para Jim Collins, em seu livro “Vencedoras por opção”, destaca-se que uma cidade precisa desenvolver não apenas condições sociais atraentes mas também uma atividade econômica robusta e recorrente, sendo o seu desenvolvimento atrelado à capacidade que ela tem de atrair investimentos e estabelecer atividade local viável economicamente, pois a prosperidade e o sucesso de seu desenvolvimento têm impacto nas condições de geração de emprego e renda de seus moradores.

Já para Friedman, são previsíveis as consequências para os países que não se veem preparando-se em três áreas fundamentais do novo mundo: infraestrutura, educação e políticas-públicas. “Onde que estejam melhores recursos humanos e mão-de-obra mais barata, é para lá que as empresas e organizações naturalmente vão migrar”. Infelizmente, recentemente presenciamos o anúncio de saída da Ford do Brasil que serão sentidos drasticamente pelas comunidades em um futuro muito próximo, entre tantas empresas brasileiras geradoras de empregos que lutam pela sua sobrevivência diariamente.

É improvável pensar disruptivamente sem considerarmos o ambiente propício para essa inovação, sendo o empresário uma das peças dessa engrenagem de criatividade e não a única, em que o apoio conjunto de entidades representativas de todas as esferas governamentais e não-governamentais, visando à manifestação de propostas de políticas públicas voltadas a criar um ambiente propício à inovação é mais do que fornecer salas e Internet, mas, sim, preparar por meio da educação voltada à inovação um ambiente pensante capaz de propor soluções viáveis para os mais diversos problemas das grandes cidades e pessoas, com foco em agilidade, confiança e acessibilidade, pois o pensamento disruptivo futuro passa por seu inclusivo sob todas as formas de classe, gênero, cor, religião e região.

Por fim, negócios disruptivos devem acelerar a realocação do capital internacional para suas propostas, com portfólios com foco em retorno estável a longo a prazo, sendo alicerceado em dois pilares: governança e sustentabilidade. Esse novo padrão gera mais que negócio, mas um propósito de cultura organizacional, proporcionado tomadas de decisões constantes, mesmo que para isso seja necessário abrir mão de “stakeholders” não alinhados com essa nova forma de fazer negócios.

Por Max Schaefer – CEO & Founder Smart Boss e mentor em estratégia empresarial


Bibliografia:

  • Pavan Sukhdev – Corporação 2020 – Como transformar as empresas para o mundo de amanhã
  • Thomas L. Friedman – O Mundo é Plano
  • Jim Collins e Morten T. Hansen – Vencedoras por opção
  • Fernandes Pereira, Mauricio; Chaves Boa, Helena Maria – Revista Ibero-Americana de Estratégia – VENCEDORAS POR OPÇÃO: PERCEPÇÃO DE BRASILEIROS EM RELAÇÃO ÀS EMPRESAS

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